Você sabe quais são os cinco grandes do futebol argentino? Quase todo mundo sabe: Boca, River, Independiente, Racing e San Lorenzo. Neste seleto grupo, não cabem intrusos. Mas um clube já foi considerado o “sexto grande” e, por muita gente, ainda é.
Estudiantes, Rosario Central, sexta maior torcida do país, e Newell’s não contam, pois não pertencem à região metropolitana de Buenos Aires. Porém, ainda restariam boas opções entre os 55 clubes profissionais da capital e seus arredores, como Argentinos Juniors, campeão da Libertadores em 1985, e Velez, campeão do mundo, em 1994.
Nada disso. O sexto grande da Argentina é o glorioso Club Atlético Huracán, campeão nacional em 1921, 22, 25 e 28, ainda na era amadora do futebol argentino, e 73, com um time que entrou para a história do esporte no país, sob o comando do então estreante técnico César Menotti.
Fundado humildemente por jovens com o absurdo nome de “Verde Esperança e Não Perde”, em 1903, o clube passou a se chamar definitivamente Huracán um pouco mais tarde. Os garotos queriam fazer um escudo e o nome anterior, extenso demais, deixou a brincadeira muito cara. O dono do lugar sugeriu algo mais curto e os fundadores teriam visto um almanaque (ou anúncio) chamado “El Huracán”. Oficialmente em novembro de 1908, estava fundado o Club Atlético Huracán.
O distintivo veio um pouco mais tarde. Em 1909, o engenheiro Jorge Newbery pilotou pela primeira vez o dirigível apelidado “Huracán”, passando pela Argentina, Uruguai e pousando no Brasil, inspirando, assim, ainda mais os jovens fundadores, que adotaram o balão como escudo oficial em 1910 e o time passou a ser conhecido também como o “Globo”. O clube, assim como Newbery, atravessou três fronteiras sem interrupções, saindo da terceira divisão para a divisão principal do campeonato argentino.
As cores são o branco e o vermelho, admitindo o azul, curiosamente o tom do maior rival, San Lorenzo, em camisas especiais. O estádio, Tomás Adolfo Ducó, dono de uma das mais belas fachadas do futebol mundial, recebe 48 mil pessoas e foi muito bem retratado no filme “O Segredo de Seus Olhos”, de Juan José Campanella, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. A torcida, também chamada de “quemeros”, tem uma máxima estampada em uma enorme bandeira, sempre presente nos jogos: “Grande no se hace, grande se nace”. Quemeros eram aqueles que iam aos lugares de queima de lixo coletar o que havia sobrado da incineração. Como o belo e pacato bairro de Parque Patrícios, casa do Huracán, era farto desses locais, os torcedores do Globo, passaram a ser chamados, pejorativamente, de “quemeros”. Porém, o apelido foi adotado e hoje é a marca da torcida.
O Huracán, após rebaixamentos nos anos 1980 e 2000, que deixaram o clube atolado em dívidas e minaram o status de sexto grande, foi a sensação do futebol portenho em 2009, quando só não levantou a taça por conta de uma péssima arbitragem na última rodada, no confronto decisivo contra o Velez, que ficou com o troféu. Aquele time leve, que tocava a bola como manda a escola clássica argentina, era comandado pelo idealista Angel Cappa, daqueles que reclamam quando o time vence, mas joga feio. O meio-campo contava com talentos promissores, como Defederico, Bolatti e Pastore.
Porém, aquele sopro de ilusão foi apenas um alívio em uma ferida que nunca cicatrizou em Parque Patrícios. O rebaixamento assola o clube desde então e nesta temporada parece inevitável. O sistema portenho é um pouco distinto, mas se o campeonato acabasse hoje, o Huracán jogaria duas partidas contra o quarto colocado da segunda divisão nacional da Argentina decidindo seu futuro.
Neste 2011, que começa muito mal, a camisa é absolutamente poluída com patrocínios coloridos e imensos. É curioso que os times argentinos, assim como os italianos e uruguaios, não tinham o costume de colocar os escudos nas camisas até os anos 1990. Porém, o Globo sempre estampou o seu simpático balãozinho no lado esquerdo do peito. A novidade na camisa deste ano é a presença das cinco estrelas referentes aos títulos nacionais dos quemeros.
Hoje é comum ver muitos brasileiros torcendo para grandes equipes argentinas, especialmente Boca, River, Racing e Estudiantes. Eu, como admirador de histórias de superação no futebol, grandes torcidas que sofrem e clubes outrora vencedores que passam por dificuldades, torço incondicionalmente para o Globo. E não tenho dúvidas de que “grande se nasce”.
El turco Mohamed, um dos maiores ídolos da história do clube nos anos 1980 e 1990, atual técnico do Independiente. (A réplica dessa camisa pode ser facilmente comprada em Buenos Aires, assim como a de 1973.)
Site dos torcedores do Huracan: www.patriaquemera.com.ar
Link do filme "O segredo dos seus olhos" : http://www.youtube.com/watch?v=hffLoBKeHWk
Romero Carvalho é jornalista, comentarista do Minas Esportes (TV Band Minas) e Quemero, com muito orgulho!
3 comentários:
Bem vindo, Romero!
Texto muito bacana. Pode repetir mais vezes a participação.
Só me tira uma dúvida: no quarto parágrafo, você fala do "dono do lugar". Que lugar seria?
Abraços!
Obrigado, meu caro!
:) Alguma estamparia do início do século XX na Argentina. O cara ainda fez errado e escreveu Uracán, sem o H.
abs!
Divulgada foto de possível camisa retrô do Coritiba alusiva ao título brasileiro de 1985. Veja aqui.
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